domingo, 7 de setembro de 2008

Tempo que voa

Em Lisboa, eu tinha uma varanda no meu quarto. Era bonito acordar, cedo ou tarde, abrir as persianas, as portas de vidro e olhar a rua. Sentir o vento, mesmo quando era frio - um contraste enorme com o quentinho dos lençóis. Mas era um prazer enorme ter varanda - e como ela só seria minha por seis meses, eu a habitava com afinco todos os dias, ainda que em frente dela só houvesse uma pequena praça, meio abandonada, e outro prédio, sempre sem seres humanos à janela.

Dessa varanda, eu podia ver uma árvore que mudou durante o tempo que eu estive lá. Ela viva na calçada do meu prédio, seus galhos quase me alcançavam. Aquela árvore morreu na minha frente - coisas do inverno. Vi suas muitas folhas verdes vermelhecerem, envelhecerem, caírem no chão. E a árvore ficou viva, mas seca, nua, como algo que foi exuberante mas, nesse momento, espera apenas a hora de morrer. Era assim como eu me sentia, como aquela árvore. Tudo na vida parecia uma fim que se esquecera de terminar.

É estranho que, agora, eu consiga olhar com tanto carinho para essas lembranças. Há sempre algo de nostálgico na soletude. Porque eu, dependente que sou dos que me rodeiam, faço sempre planos. Mas todos eles morrem quando as pessoas morrem em mim, como as folhas secas. E eu olho para eles com luto - é o momento que precede a chegada do verão.

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"Time flies, it's true. But the good news is that you're the pilot".

Andréa, ainda decidindo para onde ir.

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