segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sobre mães - ou quase isso (pensando alto)

Não sou mãe - a não ser que você considere textos como filhos. Lembro-me que chamava meu celular de filho, o que causava certa estranheza a quem não me conhecia. "Meu filho, onde está?". Meu planos adolescentes emancipatórios sempre incluiram filhos, nunca pais. Teria duas crianças, uma de cada (ex-)marido. Um menino e uma menina, exatamente nessa ordem, claro. O menino seria uns cinco anos mais velho do que a menina, e me ajudaria a cuidar dela com grande zelo. E assim seguiria, com todo o meu futuro devidamente calculado e mantido financeiramente às custas do governo - seria funcionária pública federal, com direito a 15º salário.

Uma vida extremamente calculada. Nunca acontece, não a quem sofre os revezes das crises sócio-econômicas afetadas pelo humor negro do petróleo. Não acontece também a quem decide amar (perdoem o clichê), porque não há algo mais inconstante. Amar é colocar todo seu ser nas mãos de uma pessoa tão inconstante quanto você mesmo. Os resultados são desastrosos, se pensarmos racionalmente. Racionalmente, não confiaria em ninguém, como o pai judeu, que ensina seu filho a desconfiar até mesmo dele próprio.

Mas aí pronto, você está perdido! (nas circunstâncias desse texto, melhor que falasse "perdida"). Você gosta de uma pessoa. E seria fácil se acontecesse assim: gosta de alguém, logo o alguém gosta de você. Ou ainda: gosta de alguém, mas só enquanto o alguém gostar de você. No primeiro sinal de desencontro, o encanto se quebraria e, por que não?, teríamos bonitas amizades desinteressadas entre pessoas que se conhecem, que tiveram um passado em comum. Mas nunca ocorrem facilmente, nem os fins, nem os começos.

Meu primeiro amor adolescente nunca soube que eu o amava. Ele passava por perto, minhas pernas não se seguravam. Nunca conseguia articular uma frase inteligente quando ele estava por perto. Mas ele era isso, um ser de outro mundo que enchia minha cabeça de fantasias. E fiquei assim, nesse sentimento intenso e contido. Não contava nem às minhas melhores amigas. Não contava nem a mim mesma! Só sentia aquela alegria imensa quando ele estava por perto. Depois ele foi pra longe. E eu continuei a gostar dele. E foi esse meu primeiro grande sofrimento amoroso.

Que passou. Eu o encontrei tempos depois, quase que sem querer. Fui em direção dele para cumprimentá-lo, perguntar sobre o que estava fazendo da vida. E não tremi. Não senti nada. Melhor: senti a maior alegria da minha vida. Eu estava livre, livre! Não gostava mais dele. Ombros leves, sorriso no rosto e vida medíocre, segui assim, sem nenhum arroubo, com envolvimentos fortuitos, sempre fáceis de se ter e tão efêmeros que não deixaram nenhuma marca sequer, nem um nome, nenhuma música em comum, sem sonhos compartilhados.

Faltava algo. Tive algo. Que passou também. Ficou esse blog, que surgiu para chorar minhas dores e que se transformou em qualquer outra coisa.

E eu deveria ter falado um pouco sobre o amor de mãe... Talvez numa próxima chance. Esse texto roubou todas as minhas energias. Mas sabe o que me fica? Eu não acho que o amor de mãe seja maior do que o de mulher - veja Medéia, por exemplo (um exemplo infeliz, literalmente). Mas, na maior parte das vezes, é mais constante. Sem arroubos, sem grandes tensões, sem grandes questionamentos, amor de mãe apenas é - como o mar. Apenas é. E não precisa de mais nada.

(Em Portugal, em resposta à pergunta que me fizeram sobre o amor e o amor de mãe)

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